quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ser ou não ser...

Alguém me dizia, no outro dia, em resposta a uma proposta para um exercício, que o tinha feito, que correra bem, mas que quanto mais tempo de qualidade passava consigo mesma, mais resistência colocava em estar com os outros.

Esta conversa levou-nos a profundezas da alma, e nesses rios da consciência, outras ideias surgiram. Porquê a maior dificuldade em estar com outros, depois de entrar em intimidade connosco mesmos? Em que circunstâncias, que outros, que relacionamentos estão nessa base?

A verdade é que na maioria das vezes, os padrões de acção, sentimentos, pensamentos não são livres, não são criativos, não são, pura e simplesmente, meus. Estão aqui, é certo. Posso vivê-los em verdade e defendê-los com total rigor. Mas geralmente não foram ESCOLHIDOS por mim. Somente impressos na pele e memórias, entre as noções de Bem e Mal que me ensinaram, seja através de palavras ou de comportamentos.

Quando atingimos aquela idade em que colocamos os ensinamentos (das nossas figuras de autoridade) em causa, por muito que estrebuchemos, a maioria delas faz parte dos nossos ossos e quando a idade, a experiência e o tempo nos acalmam os instintos, damos por nós a dizer, agir, fazer aquilo que já se fazia entre os "nossos". Por vezes, saímos um bocadinho da caixa. Mudamos o palavreado, a religião, as profissões. E mantemos os padrões.

Mesmo quando reflicto a sério sobre os conceitos sobre os quais vivo e, pelo mergulho profundo através de mim, da luz e da sombra, do que o meu coração me pede e do que a experiência do tempo e do amor me trás, se encontro a "minha" verdade, os meus anseios internos e neles assento raízes, há momentos em que eles são esquecidos e colocados de lado. Por pura distracção.
Querendo isto dizer que Ser-se Inteiro nem sempre é assim tão simples. A distracção, a rotina, o não estar presente, centrada em mim leva-me ao que foi impresso há muito mais tempo. Aos padrões familiares, ancestrais, a tudo o que a minha criança acreditou como verdade, pois os seus "mais que tudo" assim o faziam.

Quando me distraio, não sou livre. Sou aquilo que fizeram de mim. Não possuo o poder da escolha consciente, da responsabilidade pelos meus próprios preços. Quando me distraio sou as expectativas dos outros, o resumo daquilo que um dia acreditei que era a vida. Quando estou fora de mim, não sou eu.

Ser eu, implica estar presente. Ser eu, implica respirar-me a cada instante, vibrar com cada segundo, estar aqui e agora. Por isso nos ensinam meditação. Por isso nos pedem para viver o presente. Porque é a única forma de, efectivamente, Existirmos. E nesses momentos, os relacionamentos que mantemos com base naquilo que "esperam de nós", achávamos que éramos ou "devíamos ser" começam a tornar-se profundamente desconfortáveis. E há um trabalho profundo a fazer neles. E muitos preços a pagar.

Por vezes é necessário repetir-se muitas e muitas vezes para nós "eu estou aqui, presente. Eu escolho quem sou e o que faço. eu escolho o que penso e como quero sentir.", até que comece a tornar-se verdade.
E é nessa altura que cada passo começa a deixar uma marca única no caminho.